domingo, 14 de fevereiro de 2010

Carnaval desfile na Avenida!




Carnaval desfile na Avenida!

Carnaval e Jorge naquela tristeza de dar dó. Nada o alegrava, nem uns carinhos da Maria sua mulher, nem os beijos dos filhos, nada! Só aquela fisionomia triste!
Tão diferente do Ano Passado, quando acordou delirante, ansioso que logo chegasse a hora de desfilar.
Ninguém compreendia aquela tristeza, Jorge gostava tanto de carnaval.
Jorge com seus pensamentos, lá no fundo do íntimo sabia o porquê estava triste.
Será que ninguém compreendia que o ano passado saiu fantasiado de Rei?
Era fantasia, e deu duro o ano inteiro fazendo biscates para poder pagar a fantasia.
Esse ano não precisou fazer nada de diferente para comprar a fantasia, ele ia sair de palhaço.
Não que desmerecesse os palhaços, ao contrário gostava dos palhaços profissionais.
O que ninguém compreendia é que para ele não era fantasia, ele já se sentia palhaço na vida, todos o faziam de palhaço.
Na própria escola em que desfilava qualquer defeito elétrico logo gritavam:- chama o Jorge que ele entende do negócio.
Entendia mesmo tinha curso de eletricista do SENAC, diplomado.
Porém ninguém falava em pagá-lo afinal desfilava pela escola, mas pagavam ao figurinista, ao compositor da música e a outros que trabalhavam pelo desfile e a ele nada! Então isso não era ser palhaço ao aceitar essa condição.
Na escola dos filhos a mesma situação, com toda a sua família eram iguais, chama o Jorge e depois damos umas cervejas.
Ele sempre ao aceitar essa situação não era um palhaço da vida?
Ele não sairia fantasiado ele era o próprio palhaço da história.
No ano passado sim foi fantasiado de Rei, nunca fora nem nunca seria, nem do futebol como foi o Rei Pelé, da música o Rei Roberto Carlos. Ele nunca foi nem nunca seria Rei de nada então era fantasia, saíra fantasiado de Rei, por alguns momentos foi Rei e como tal se sentira.
Agora ia se sentir como toda vida se sentiu Palhaço!
Disse a Maria que ia tomar banho, pediu a fantasia para levar para o banheiro.
Sua mulher retrucou que era cedo demais para vestir a fantasia.
_”Não discuta comigo, traga- me a fantasia!”
Maria assim o fez.
Jorge entrou no banheiro não tomou banho, vestiu a fantasia, barbeou-se, viu-se no espelho e achou que estava bom.
Como bom eletricista que era desencapou uns fios, abriu o chuveiro e vestido de PALHAÇO entrou debaixo da água, morreu eletrocutado na hora!
Morreu como sempre viveu PALHAÇO só que dessa vez vestido do que sempre fora.
Acabou para sempre o carnaval para o Jorge.

© Marlène Tavares
A Palita
Niterói,14 de fevereiro de 2010

Nota da autora: eu também me sinto palhaça na vida e já me retratei como tal e fiz poema em cima da pintura que fiz de mim.