quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Fui ao Banco!



Fui ao Banco!

Nada de mais em se ir ao banco, mas eu sou da terceira (talvez última) idade
Em Niterói onde moro um calor de mais de 40º graus, banco só abre depois das dez não adianta tentar ir mais cedo quando ainda não está tão quente.
Eu estou doente dos rins, nefrite, pés inchados, cheia das dores. Pago minhas contas pelo telefone para não ter que ir ao Banco.
Porém o dinheiro acaba e só mesmo indo ao Banco para pegar o dinheiro. A faxineira não aceita cheque, que pena!
Eu vou ao caixa não tenho agilidade para digitar, desde que tive a isquemia, por isso enfrento a fila dos idosos.
Nos caixas eletrônicos também tem fila então é tudo igual, o que diferencia é a maldita porta giratória.
Pois bem fui passar por ela e ela PI,,pi ..pi . O guarda pediu que eu tirasse o relógio chaves da bolsa e qualquer material de metal. Tirei o relógio e coloquei logo a bolsa com tudo na tal caixa em que mandam que coloquemos. Eu estava simplesmente vestida e de chinelo devido aos pés inchados. Vestidinho pode se dizer até pobrezinho, mas foi o mais fresquinho que encontrei no armário.
Vou passar pele porta e PI..pi..pi
Não é possível, digo ao guarda do banco a porta deve estar com defeito.
Ele cinicamente me pergunta (Cinicamente por que não respeitam os idosos para eles nós somos motivos de chacota.)
- A Senhora não está com alguma peça intima que tenha metal?
Respondo que não.
-Vamos tentar de novo, diz ele.
Lá vou eu e a maldita porta PI..pi..pi..
- Tem certeza que não está com peça íntima que contenha metal?
Eu já enfurecida digo a ele: - Não estou e o Senhor não vai querer que tire minha roupa, Olhando para a cara dele e já gozando da cara do infeliz disse; - pode ser uns pregos que engoli ali na esquina, antes de vir para o Banco. O Senhor não está vendo que a porta está com defeito.
Ele então abre a outra porta para pessoas em cadeiras de rodas para eu entrar.
Nessa altura do campeonato eu irritadíssima pego minha senha de idoso e fico a esperar minha vez.
Quando chamam o meu número digo quanto quero tirar, mostro o cartão, tudo normal. A caixa que não é a mesma que sempre atendeu aos idosos agora é uma patricinha vestida de marca, olha para minhas roupas, meu cabelo que não pinto, deve ter lembrado a porta que apitou e pergunta. –Esse cartão é seu?
Respondo que sim. De novo me olhando bem e ao cartão torna a perguntar. - A Senhora tem certeza que esse cartão é seu?
Aí não me contive, quase aos berros disse:- Não! Não é meu! Acabei de roubar ali na esquina quando engoli os pregos que fez a porta apitar,
O guarda não viu, mas tenho um 38 aqui na bolsa para dar tiro na cara de mocinhas que me fazem perguntas idiotas. Acha que por estar humildemente vestida e não de roupa de marca não posso ter um cartão internacional? Talvez você com toda essa pose, não tenha um, mas eu trabalhei muito nessa vida e por isso tenho meu cartão que me dá direitos especiais.
Nessa altura o Banco inteiro ( a agência é pequena) já estava as gargalhadas, o gerente veio correndo me pediu desculpas retirou ela do caixa imediatamente e ele mesmo me fez o pagamento.
Ao sair o guarda não pensou duas vezes abriu a porta para deficientes e eu fui-me embora.
Nesse País o que dão valor é a aparência. Triste País esse meu!
© Marlène Tavares
a Palita.